“Vai ser o jogo de duas escolas. Eles têm o Robinho e o Neymar, mas nós também temos o Douglas, que é fantástico, temos nossos goleadores Borges e Jonas.” – Silas, técnico do Grêmio, sobre o confronto contra o Santos pela Copa do Brasil.
“É um grande jogador. Não tenho poder de decisão, mas adoraria jogar com ele. É uma posição que sentimos falta desde a saída do Douglas.” – Ronaldo sobre a possível contratação de Diego Souza.
Achei interessante encontrar essas duas declarações, quase que simultaneamente proferidas por personagens diferentes, em situações diferentes, mas com um mesmo enfoque. O meia-armador, ou a falta dele no caso do Ronaldo.
Silas sabe que encontrou em Douglas uma jóia rara. Assim como Mano Menezes sabia que contava com ela em seu plantel no ano passado. O famoso Camisa 10 clássico, aquele capaz de cadenciar o jogo, alterar o ritmo da partida, distribuir a bola, de uma importância técnica e tática incalculável e, aparentemente, escassos no mercado.
E de acordo com a recém divulgada lista do Dunga, em falta na Seleção também. Kaká, apesar de ser mais um meia-atacante, tendo como ponto forte suas arrancadas, pode sim exercer essa função de armador. Mas Júlio Baptista e Elano, não. Sendo esse um dos motivos da pressão por Ronaldinho ou Ganso.
Mas nem tudo é um mar de flores para um meia-armador, afinal, eles produzem tanto lances efêmeros, quanto lances históricos. Basta lembrar os “carinhosos” apelidos de alguns deles. Alex, atualmente no Fenerbahce da Turquia e que era o Maestro do Cruzeiro ganhador da Tríplice Coroa de 2003, era chamado de Alexotan. Douglas, no recente Corinthians, de Sonouglas.
Porém, tanto aquele Cruzeiro, quanto o Corinthians do ano passado devem muito de seus títulos à eles. Douglas permitiu a Mano Menezes utilizar o 4-3-3 que deu ao Timão o Paulista Invicto e a Copa do Brasil. E Alex foi a grande estrela de todas as conquistas da Raposa em 2003, o que lhe garantiu o passaporte para a Copa América em 2004.
O Santos conta com um exemplo atualíssimo. E um baita exemplo. Paulo Henrique Ganso é um excelente meio campista. Conta com visão, passe e drible. A torcida do Peixe, e a maioria dos amantes do futebol, gruda na televisão e espera por mais um lance que os surpreenda. E Ganso, caprichoso, entrega o que querem. Talvez por isso, seja uma das commodities em alta no mercado brasileiro.
O que me lembra do valor de um jogador desses. Em 2002, Ricardinho saiu do Corinthians para o São Paulo, após a Copa do Mundo, pela, até então, maior transferência do futebol brasileiro. E até hoje é um jogador que tem vaga em praticamente qualquer clube da Primeira Divisão. Tanto é verdade que está no Atlético Mineiro, atual campeão estadual e, em minha opinião, candidato ao título brasileiro.
Douglas, sempre ele, veio do São Caetano para o Corinthians em 2008, especula-se, por três milhões de dólares. Esse valor pagou apenas 50% do passe de um jogador de 26 anos. Foi para a Arábia por outros milhões e voltou ao Grêmio esse ano, dois anos mais velho, ainda custando milhões e um salário de 120 mil reais.
Aparentemente, porém, Silas não se importa com as cifras. Sabe que conta com um excelente jogador e ele vem respondendo em campo. Seus dois gols contra o Fluminense, no Maracanã, são a prova cabal disso. O Grêmio de Porto Alegre tem sim outros ótimos jogadores, como Borges e Jonas, mas seu sucesso passa pelos pés de seu Camisa 10.
E a mesma coisa acontece com a Seleção Brasileira e Kaká, com o Santos e Ganso, o Galo e Ricardinho, com o Guarani de 78 e Zenon, com o Corinthians de 90 e Neto, o Cruzeiro de 2003 e Alex, além de outros tantos exemplos Brasil afora, atuais ou não e até mais famosos. Dirão, talvez, que aquele Guarani deve mais a Careca, que esse Santos é mais Neymar, que o Galo é Tardelli e por aí vai. Mas perguntem ao Ronaldo se não é de um camisa 10 que ele sente falta...

Um comentário:
Podes até virar um comentarista esportivo especializado em futebol. Muito boa análise. Peças raras este "garçons" da bola.
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