quinta-feira, 6 de maio de 2010

O futebol, o "business" e o exercício de imaginação...


“Não podemos cair nesse discurso medíocre e hipócrita de torcedor de arquibancada, que não tem cultura para falar disso. É ignorar que o objetivo final do futebol seja dar retorno financeiro ao clube. Não há desmanche, há um ciclo no futebol.”

Aposto que vários torcedores corintianos lembraram-se hoje pela manhã ou mesmo ontem, durante a partida, dessas palavras proferidas por Mário Gobbi em julho do ano passado. Não por seu tom agressivo e até de esculacho, mas sim pelo time que tinha acabado de ser desfeito e acabou gerando esse comentário (infeliz) do Vice-Presidente de Futebol do clube.

O lateral André Santos, então jogador de seleção brasileira, o meia-armador Douglas, camisa dez clássico, e o volante Cristian, considerado por muitos a alma daquele time, foram negociados ao término da campanha vitoriosa da Copa do Brasil.

Ao pensar naquela equipe, o corintiano deve ter se dado a chance de sorrir ao lembrar-se do futebol envolvente, eficiente, o brio, a garra e claro, os títulos. Deve ter também afirmado categoricamente a si mesmo: “Com aquele time, seriamos campeões”. É o tal do exercício de imaginação.

O mesmo exercício que provavelmente tomou conta do imaginário dos torcedores do Real Madrid ao serem anunciadas as midiáticas, e milionárias, contratações de Cristiano Ronaldo, Kaká, Benzema e Xabi Alonso. Eram os Novos Galácticos, a promessa de um time de ilusão/sonho, assim como o torcedor do Real está acostumado e adora.

Mas “o futebol não é uma ciência exata”, “comprar jogadores não é certeza de títulos”, “precisa-se de pedreiros, tanto quanto de engenheiros” e toda a conversa que já se repetiu um milhão de vezes no mundo da bola se provou certa mais uma vez.

Sendo assim, o Real dos Galácticos e o Corinthians, de Iarley, Defederico(diz-se que custou 4 milhões de dólares aos cofres alvinegros), Roberto Carlos, Danilo, Tcheco e claro, Ronaldo, saem sem seus principais objetivos na temporada: A Liga dos Campeões da Europa, cuja final será no Santiago Bernabeu, e a Libertadores da América.

Em ambos os casos, os montantes gastos ao montar essas equipes são astronômicos. Cristiano Ronaldo, sozinho custou 94 milhões de euros. Ronaldo, o Fenômeno, ganha aproximadamente 12 milhões de reais/ano. A folha salarial do clube paulista é de 7 milhões/mês. A do Santos, equipe sensação do momento, é de 2,5 milhões/mês (sem contar Robinho, que é bancado por uma empresa).

Olhando esses números não é necessário ser um, digamos, Vice-Presidente de Futebol de um grande clube para saber que futebol é, sim, business. E dos grandes! Por isso, deve ser administrado com cuidado. As decisões tomadas serão julgadas pelos torcedores não pelos números, mas sim pelos resultados conquistados pela equipe formada por essa dinheirama.

Hoje, aposto que os corintianos acordaram pensando que trocariam todos aqueles milhões angariados pela venda de seus jogadores no ano passado, pela permanência dos mesmos. Os torcedores flamenguistas, por outro lado, estão muito satisfeitos com os milhões gastos no “Império do Amor”, decisivo nessas oitavas-de-final. Os santistas? Esses nem querem pensar em milhões perto de seus Meninos, querem é que eles fiquem por ali mesmo, encantando a Vila com seu futebol.

Porém, outra máxima do futebol é que ele é imprevisível. Assim como seus torcedores. Os que hoje estão satisfeitos, como os flamenguistas, amanhã poderão pensar diferente. E vice-versa.

Então, se o Corinthians quer que sua torcida enxergue o “business” com outros olhos é melhor correr atrás do Campeonato Brasileiro desse ano. Assim como o Real Madrid está correndo atrás da Liga, lá na Espanha. Ou, os corintianos terão que se contentar com mais tempo para exercitar sua imaginação. E agüentar a gozação por um possível centenário “sem ter nada”...

Um comentário:

Anônimo disse...

Belo texto, belo texto.