quinta-feira, 24 de novembro de 2011

As facetas da administração de um clube.

Apresentação de Marcelinho em sua primeira passagem pelo clube.
Acompanhado por Alberto Dualib. (Autoria desconhecida)
Assisti há pouco um vídeo do Marcelinho Carioca falando sobre o perdão de uma dívida de mais de 7 milhões de reais que devia ao Corinthians, em troca de um novo contrato que acabou lhe rendendo ainda 2 milhões na rescisão apenas 7 meses depois. Na época cheguei a assistir uma partida em que atuou, contra o Flamengo no Morumbi e se bem lembro, a torcida ainda guardava carinho pelo Pé-de-Anjo.

Mas de causar saudades na torcida por sua vasta coleção de títulos com a camisa alvinegra, para a sua contratação mediante o perdão de uma dívida milionária e ainda depois revertendo parte deste montante para a responsabilidade do clube, já são outros quinhentos.

Assim como se comprometer em pagar 10 milhões de euros ao Lyon pela compra do atacante Nilmar, não ter recursos para realizar tal pagamento, perder o jogador  para o Internacional de graça e ainda ser condenado à pagá-lo uma quantia de 7 milhões de reais resultado de ações trabalhistas.

Os casos de Marcelinho e Nilmar são expoentes de uma época negra do Corinthians. Um período de sangria econômica por parte da administração de Alberto Dualib, permeada por corrupção e coronelato, apesar das conquistas dentro de campo. E tal exemplo não se restringe ao clube de Parque São Jorge, poderíamos encontrá-los em praticamente quaisquer clubes da Série A do Brasileiro em um passado recente. Éramos ainda amadores em tempos de um futebol extremamente monetizado.

A referida situação foi responsável pelo descomunal endividamento dos clubes brasileiros perante o Estado e  instituições financeiras particulares. Também culminaram em colocar tradicionais equipes nas páginas policiais e em investigações da Polícia Federal, em casos de lavagem de dinheiro e corrupção. Vergonha que não se pode esquecer para que não se deixe repetir. 

O Corinthians, hoje, conta com patrocínio alardeado como sendo o quarto maior do Mundo e ditou o rumo  seguido por muitos outros clubes da primeira divisão em suas propagandas estampadas nas camisas. Vende-se, inclusive, o espaço das axilas dos jogadores em oportuna ação de desodorante. Tampouco se contam nos dedos as ações de marketing realizadas fora de campo no Parque São Jorge, outrora inexistentes e de responsabilidade da empresa da neta do Presidente Dualib, em um claro exemplo de nepotismo importado do Planalto Central.

Apresentação de Ronaldo no Corinthians. (Globoesporte.com)
Argumenta-se que o fator Ronaldo ajudou a alavancar tal setor de receitas corintiano, mas o principal responsável, para mim, ainda é o manejo do atual presidente Andrés Sanchez e sua equipe (notadamente o economista Luis Paulo Rosenberg). Nota-se, claramente, o salto entre o amadorismo personalista de Dualib para outra administração, mais profissional e voltada para o business (palavra que adora Mário Gobbi, candidato de Sanchez à sua sucessão).

Vale lembrar que esta não é a tentativa de se ressaltar os méritos de uma pessoa à frente do Corinthians em detrimento de outra, em cunho oportunista, mas os fatos estão postos sobre a mesa. Os investimentos em infraestrutura, o massivo aumento da receita no contrato de TV, as inúmeras ações de marketing em conjunto com a Nike e a construção do estádio falam por si só. Nunca antes na história deste país (outra importação do DF) se explorou tão bem uma marca no futebol.

Felizmente, o exemplo corintiano não passou desapercebido por outros clubes brasileiros. Não só na hora de copiar a exposição de marcas nas omoplatas de seus jogadores, mas também em buscar novas fontes de receita junto a seus torcedores, os maiores ativos de um clube. Os programas de sócios dos clubes da capital gaúcha são exemplos a serem seguidos (e efetivamente estão sendo).

Por outro lado, a contratação de Ronaldinho pelo Flamengo nos moldes da de Ronaldo explicita que nem toda ação de marketing dará certo em qualquer lugar ou com qualquer jogador. O potencial de mídia do Gaúcho não se mostrou tão grande quanto a do sempre carismático Fenômeno. O resultado? Crises deflagradas na mídia entre patrocinadores, parceiros, o clube e o jogador que podem, inclusive, culminar na sua saída do rubro-negro carioca.

As diversas experiências Brasil afora e o salto quantitativo da receita dos clubes exemplificam o momento de profissionalização da administração no futebol brasileiro que culminará, eventualmente, em uma divisão drástica entre aqueles que conseguiram maximizar seu potencial financeiro e aqueles que ficaram para trás, agarrando-se em exemplos como os de Dualib e Eurico.

É notório que tal momento atrai o investimento e os olhares de cada vez mais empresas para o esporte. Percebe-se a ramificação de organizações tradicionais em seus ramos em aventuras no futebol. O Grupo Pão de Açúcar é dono de jogadores, como Paulinho da Seleção e do Corinthians, e de clubes no Rio e São Paulo, chamados ambos de Audax. O Grupo Sonda, originalmente outra rede de supermercados, é parceiro do Santos em contratações e detém, inclusive, parcela de Neymar, maior objeto de desejo dos gramados brasileiros.

E esses casos citados se atém apenas aos clubes mais tradicionais e em evidência. Há participações empresariais em praticamente todos os níveis do futebol brasileiro. Até o Londrina Esporte Clube, que atualmente não disputa nem a Série D do Campeonato Brasileiro, é controlado por um destes grupos.

Enfim, temos que aqueles clubes que não profissionalizarem a sua administração e se aterem aos velhos modos, em que o presidente do clube era aquela figura folclórica que pagava "do bolso" as contratações, serão relegados a posições de coadjuvantes e fatalmente serão apenas memória do clube vencedor que um dia foram.


PS: Não coloquei o vídeo do Marcelinho para ilustrar a postagem porque é referente à dízimos para Igrejas. Basicamente, ele usa o argumento do perdão da dívida como sendo uma graça de Deus por ter contribuído. Só pode ter sido assim que Dualib se sentiu tocado e fez um contrato absurdo e prejudicial ao clube que presidia. 

Nenhum comentário: